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FILIPE RODRIGUES

( Pará )

Poeta de Belém do Pará, Brasil.
Tem 26 anos (em 2021).
Formado em Cinema e Audiovisual, tem 3 curta-metragens
e co-dirigiu um longa.

 

VII ANUÁRIO DA POESIA PARAENSEAirton Souza organizador.  Belém: Arca Editora, 2021.  221 p.  ISBN 978-65-990875-5-4    
Ex. Antonio Miranda

 

Poema em prosa cronológica

Sou cheio de planos, cronogramas, metas.
Tento mapear minha existência nos dias o máximo que posso
Onde vou estar e como
o que vou fazer e quando.
Hoje me sufoquei entre as linhas de meus próprios compromissos.
Nas ocupações do dia, não sobrou espaço para olhar, ouvir, tocar, provar.
Lapido a potência das experiências com riscos autoritários de caneta em
papel marcado com números de calendário.
Hoje passou por mim uma caravana, uma rota de fuga, um sinal dos céus,
uma resposta aguardada, uma surpresa imprevista, uma epifania
e eu não vi, porque não havia planejado ver.
A minha fatia é minúscula comparada com o resto do bolo do qual ela se
desgarra.
É preciso escrever e também viver,
esses dois atos de coragem são complementares.
Não devo cair no pecado de desvalorizar as sensações
Reações, espasmo, preenchimento tátil,
olhares, violências, a simpatia de estranhos
Sol e chuva, nós e eles
eu e todos.
O mundo existe a partir e além do papel.
Se alguém quisesse, ou se interessasse, seria fácil traçar meus passos
e me descobrir inocente ou culpado.
Tudo descrito, restrito, fechado.
Entre o cair do sol e o nascer da noite,
naquele espaço mínimo, uma breve brecha esquecida,
uma sensação quase nova, quase perdida.
A possibilidade de vida,
Despontava.
Rapidamente escrevi essas linhas porque a vida, quando acontece, é em
rompantes curtos e com hora marcada.
Entre o abrir e fechar das grades não somos livre, apenas sentimos o sol no
rosto e respiramos uma prova daquilo que perderíamos ter.
Estou sempre dando voltas ao redor de tudo que não cabe ou não deve ser
posto no papel. Como a criança que encara o rio com medo mesmo sabendo que não há outra opção a não ser pular.
Devo marcar na minha agenda data e hora de enlouquecer.
Planejar o quando me lançar à deriva.
Por um só dia,
encontrar a medida certa de ser quem não sou.

 

*

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Página publicada em março de 2022

 

 


 

 

 
 
 
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